outubro 2012

O Pensamento Molotov

por Matheus

   O pensamento molotov é aquela matéria-prima de tudo que muda, que queima o existente tomando seu lugar enquanto puder. Uma ideia fumegante que ainda nem ardeu, e precisa de força para ser jogada, lançada na realidade dura e áspera para prosperar, tornando-se a chama apaixonada que muda, consumindo aquilo que a contraria e enforca junto com o ar que a alimenta. Uma ousadia que machuca o mundo podre, uma paixão engarrafada na cabeça do pensador-crítico, que observa o seu arredor e percebe, entende, que sua ideia poderia deformá-lo e destruí-lo, para construir sobre ele o novo, o transformado e purificado pós-conflito, pós-chama. 

  O pensamento molotov, quando lançado no ar puro da realidade, é capaz de se espalhar rapidamente noutras cabeças; um incêncio cerebral capaz de destruir a palha seca e morta de antes por cinzas-berço, donde nasce a fênix renovada pelo trauma da queimadura que machuca, mas purifica, libertando do peso sem vida e seco da palha anterior o atingido, que agora arde também, junto com o pensador-crítico inicial, que trouxe a brasa ao mundo num primeiro momento.

   O parto da fênix pode demorar, ser angustiante, mas depois de fecundada a mente, um aborto se torna complicado, se não impossível, afinal o embrião de fogo passou a crepitar, e a água fria dos outdoors, dos comerciais, torna-se vapor ao tocá-lo. A mente fecunda agora arde, tornando-se gradualmente mais quente, juntando os A's e os B's daquilo que extrai do mundo e compreendendo que está tudo errado, que o fogo precisa tomar o lugar da podridão e consumi-la até que só sobrem lembranças mornas daquilo que passou.

    Eis a pira do mundo.

Back to Top